Oswald de Andrade

Oswald de Andrade

sexta-feira, 28 de março de 2014

Anita, Tarsila, Mário e Manuel

Anita Malfatti

Anitta realizou sua primeira exposição individual, em 1914, aqui no Brasil. Em seguida, foi para os Estados Unidos onde estudou com Homer Boss, com a liberdade de pintar o que desejasse, livre de imposições.

Foi esse período que marcou a fase mais brilhante de sua criação. Anita produziu telas como O homem amarelo, Mulher de cabelos verdes, O Japonês, ainda hoje tidas entre suas melhores obras.

A maneira como ela percebia a arte veio “desarrumar” o que era aceito. Para ela, porém, não era somente o que era belo que existia. O feio fazia parte da realidade e era por ela retratado em sua arte. Era a expressão que se fazia presente porque era assim que Anita percebia a arte. Suas pinturas – modernas – tinham, portanto, motivos para causar desaprovação.

Em 1917, Anita fez outra exposição, muito importante porque foi considerada a semente do modernismo. "Foi ela, foram os seus quadros, que nos deram uma primeira consciência de revolta e de coletividade em luta pela modernização das artes brasileiras" disse o escritor Mário de Andrade, outro expoente do modernismo brasileiro.

No entanto, o editor e autor Monteiro Lobato, em artigo publicado no jornal "O Estado de S.Paulo", criticou a mostra, esperando atingir seu alvo principal, os modernistas, como Di Cavalcanti, companheiros da pintora. Ela recebeu mal a crítica. Entrou em depressão e parou de pintar. Um ano depois, decidida a ser mais convencional, foi tomar aulas de natureza-morta com Pedro Alexandrino Borges, e se tornou amiga da pintora Tarsila do Amaral.

Os trabalhos de Anita foram exibidos na Semana de Arte Moderna de 1922 e em outras exposições, onde foi premiada e consagrada. 

A pintora teve um amigo, confidente, sua paixão platônica de toda uma vida: Mario de Andrade. Ao que tudo indica, Mario sabia do amor de Anita, mas os dois nunca falaram sobre isso. Ele morreu, solteiro, em 1945. No décimo aniversário da morte do escritor, ela escreveu-lhe uma carta:

"Tenho medo de ter desapontado a você. Quando se espera tanto de um amigo, este fica assustado, pois sabe que nós mesmos, nada podemos fazer e ficamos querendo, querendo ser grandes artistas e tristes de ficarmos aquém da expectativa."

Principais obras de Anita Malfatti:

A boba, As margaridas de Mário, A Estudante Russa, O homem das sete cores, Nu Cubista, O homem amarelo, A Chinesa, Arvoredo, Interior de Mônaco...


A boba.

Tarsila do Amaral

Em 1922, formando o "Grupo dos Cinco", junto com Anita Malfatti, Mario de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia. Este grupo foi o mais importante da Semana de Arte Moderna de 1922.

Em 1923, retornou para a Europa e teve contatos com vários artistas e escritores ligados ao movimento modernista europeu. Entre as décadas de 1920 e 1930, pintou suas obras de maior importância e que fizeram grande sucesso no mundo das artes. Entre as obras desta fase, podemos citar as mais conhecidas: Abaporu e Operários.

No final da década de 1920, Tarsila criou os movimentos Pau-Brasil e Antropofágico. Entre as propostas desta fase, Tarsila defendia que os artistas brasileiros deveriam conhecer bem a arte europeia, porém deveriam criar uma estética brasileira, apenas inspirada nos movimentos europeus.


É característico de suas obras o uso de cores vivas, a influência do cubismo (uso de formas geométricas), a abordagem de temas sociais, cotidianos e paisagens do Brasil e a estética fora do padrão (influência do surrealismo na fase antropofágica).


O abaporu.
Operários.


Mário de Andrade

Um dos criadores do modernismo no Brasil. Junto com Oswald e outros intelectuais, Mário ajudou a preparar a Semana de Arte Moderna de 1922. No segundo dia de espetáculos, durante o intervalo, em pé na escadaria do Teatro Municipal, leu algumas páginas de seu livro de ensaios "A Escrava Que Não É Isaura". O público, despreparado para a ousadia, reagiu com vaias.


Em 1917 conhece Anita Malfatti e Oswald de Andrade, tornando-se amigos inseparáveis. Ainda nesse ano com o pseudônimo de Mário Sobral, publica seu primeiro livro "Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema", no qual critica a matança produzida na Primeira Guerra Mundial.

No Primeiro Tempo do Modernismo (1922-1930) a lei era se libertar do modismo europeu, procurar uma linguagem nacional e promover a integração entre o homem brasileiro e sua terra. 1922 foi um ano importantíssimo para Mário de Andrade. Além da Semana de Arte Moderna, foi nomeado professor catedrático do Conservatório de Música. Publicou "Pauliceia Desvairada", onde reuniu seus primeiros poemas modernistas. Integrou o grupo fundador da revista Klaxon, que servia de divulgação para o movimento modernista.

Mário de Andrade fez várias viagens pelo Brasil, com o objetivo de estudar a cultura de cada região. Visitou cidades históricas de Minas, passou pelo Norte e Nordeste, recolhendo informações como festas populares, lendas, ritmos, canções, modinhas, etc. Todas essas pesquisas lhe renderam obras como "Macunaíma", "Clã do Jabuti" e "Ensaio sobre a Música Brasileira".

Em "Clã do Jabuti", Mário mostra a importância que dá à pesquisa do folclore brasileiro, tendência que atingirá seu ponto alto no romance "Macunaíma", no qual recria mitos e lendas indígenas para traçar um painel do processo civilizatório brasileiro:

"No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma".

Na musicologia, seu "Ensaio Sobre a Música Brasileira" influenciou nossos maiores compositores contemporâneos, nomes como Heitor Villa-Lobos, Francisco Mignone, Lorenzo Fernández, Camargo Guarnieri.

O primeiro livro mostra a preocupação do autor em denunciar as desigualdades sociais. O segundo se constitui de textos esparsos (reunidos em publicação póstuma), mas traz os contos mais importantes, como "Peru de Natal" e "Frederico Paciência".


Sua obra poética foi reunida e publicada postumamente em "Poesias Completas".




Manuel Bandeira

Os temais mais comum na obra de Manuel Bandeira é marcada pela experiência da doença e do isolamento advindo dela, são, entre outros, a paixão pela vida, a morte, o amor e o erotismo, a solidão, a angústia existencial, o cotidiano e a infância.

Sua obra é um rico testemunho da poesia brasileira do século XX, pois engloba criações que vão de um pós- Parnasianismo e de um pós-Simbolismo. Poemas com influências pós-simbolistas: A cinza das horas e Carnaval. O ritmo dissoluto é uma obra de transição e Libertinagem é uma obra de plena maturidade modernista.

Entre as inúmeras contribuições deixadas pela poesia de Manuel, duas se destacam: o seu papel decisivo na solidificação da poesia de orientação modernista, com todas as suas implicações (verso livre, língua coloquial. irreverência, liberdade criadora...), e o alargamento da lírica nacional pela sua capacidade de extrair poesia das coisas aparentemente banais do cotidiano

Os sapos

Enfunando os papos, 
Saem da penumbra, 
Aos pulos, os sapos. 
A luz os deslumbra. 

Em ronco que aterra, 
Berra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi à guerra!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado. 

Vede como primo 
Em comer os hiatos! 
Que arte! E nunca rimo 
Os termos cognatos. 

O meu verso é bom 
Frumento sem joio. 
Faço rimas com 
Consoantes de apoio. 

Vai por cinquüenta anos 
Que lhes dei a norma: 
Reduzi sem danos 
A fôrmas a forma. 

Clame a saparia 
Em críticas céticas:
Não há mais poesia, 
Mas há artes poéticas..." 

Urra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

Brada em um assomo 
O sapo-tanoeiro: 
- A grande arte é como 
Lavor de joalheiro. 

Ou bem de estatuário. 
Tudo quanto é belo, 
Tudo quanto é vário, 
Canta no martelo". 

Outros, sapos-pipas 
(Um mal em si cabe), 
Falam pelas tripas, 
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". 

Longe dessa grita, 
Lá onde mais densa 
A noite infinita 
Veste a sombra imensa; 

Lá, fugido ao mundo, 
Sem glória, sem fé, 
No perau profundo 
E solitário, é 

Que soluças tu, 
Transido de frio, 
Sapo-cururu 
Da beira do rio...

"Pau-Brasil", "Manifesto Antropófago"

"Pau-Brasil"

Em 1924, Oswald de Andrade lançou o Manifesto da Poesia Pau-brasil, dando início ao movimento Pau-Brasil, que, inspirado em nosso primeiro produto de exportação, o pau-brasil, defendia a criação de uma poesia brasileiro de exportação. O movimento propunha uma poesia primitivista, construída com base na revisão crítica de nosso passado histórico e cultural e na aceitação e valorização dos contrastes da realidade e da cultura brasileiras.

Neste manifesto Oswald defende uma poesia que seja ingênua, mas ingênua no sentido de não contaminada por formas preestabelecidas de pensar e fazer arte. “Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.”



"Manifesto Antropófago"

Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Raul Bopp, em 1928, o mais radical de todos os movimentos do período: a Antropofagia. O movimento foi inspirado no quadro Abaporu. Os antropófagos propunham a devoração da cultura estrangeira.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Um pouco de Oswald - Curta Biografia

Podemos dizer que Oswald  foi o maior representante da estética modernista no que se refere às características estilísticas. Em suas obras destacam-se obras a  linguagem espontânea, livre de apegos no que diz respeito à sintaxe, predominância do coloquialismo e de uma crítica extremamente irreverente. Sem ser ingênuo e ufanista, ele defendia a valorização de nossas origens, do nosso passado histórico e cultural, mas de forma crítica, recuperando, parodiando, ironizando e atualizando nossa história de colonização.

Oswald de Sousa Andrade, filho único de José Oswald Nogueira de Andrade e Inês Henriqueta Inglês de Sousa Andrade, nasceu em 11 de janeiro de 1890 em São Paulo. Formou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco. Em suas várias viagens à Europa, tem contato com os movimentos de vanguarda e adota as ideias futuristas, tornando-se uma das principais personalidades do modernismo. Estudou jornalismo literário e, inicia sua vida literária no jornal humorístico "O Pirralho" fundado por ele mesmo.

Muito próximo, no princípio de sua carreira literária, da pessoa de Mário de Andrade, ambos os autores funcionaram como um dínamo na introdução e experimentação do movimento, unidos por uma profunda amizade que durou muito tempo.

Porém, possuindo profundas distinções estéticas em seu trabalho, Oswald de Andrade foi também mais provocador que o seu colega modernista, podendo hoje ser classificado como um polemista. 

Criador da obra "O Pau-Brasil" e "Antropofagia", Oswald de Andrade lança um dos mais importantes manifestos do modernismo "Manifesto Pau-Brasil", publicado no Correio da Manhã.

Em 1926 casa-se com a pintora Tarsila do Amaral. Dois anos depois, separa-se de Tarsila do Amaral e casa-se com a escritora e militante política Patrícia Galvão, a Pagu. Em 1944, mais um casamento, com Maria Antonieta D'Aikmin, com quem permanece casado até o fim de sua vida.


Oswald de Andrade morre em São Paulo, no dia 22 de outubro de 1954.

Suas principais obras são: o Manifesto Antropófago, os romances Serafim Ponte Grande e Memórias sentimentais de João Miramar, a peça teatral O rei da vela, O homem e o cavalo e A mortaos poemas Bucólica, cidade, pronominais, maturidade, a transação, 3 de maio, entre outras. 


Oswald e Anitta Malfatti.
Oswald, Patrícia Galvão e o filho do casal, Rudá.

Oswald ao lado de seu último amor, Maria Antonieta.

O modernismo

O modernismo brasileiro foi um amplo movimento cultural que repercutiu fortemente na primeira metade do século XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas. Características desse momento literário foram: a libertação estética, a experimentação constante e, principalmente, a independência cultural do país. A base deste movimento se encontra nas artes plásticas, com destaque para a pintura. O movimento no Brasil foi desencadeado a partir da assimilação de tendências culturais e artísticas lançadas pelas vanguardas europeias no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, como o Cubismo e o Futurismo. 

Considera-se a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, como ponto de partida do modernismo no Brasil. O modernismo já se mostrava presente muito antes do movimento de 1922, as primeiras mudanças na cultura brasileira que tenderam para o modernismo datam de 1913 com as obras do pintor Lasar Segall; e no ano de 1917, a pintora Anita Malfatti , recém-chegada da Europa, provoca uma renovação artística com a exposição de seus quadros. A este período chamamos de Pré-Modernismo (1902-1922), no qual se destacam literariamente, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos; nesse período ainda podemos notar certa influência de movimentos anteriores como realismo/naturalismo, parnasianismo e simbolismo. 

Porém, nem todos os participantes desse evento eram modernistas: Graça Aranha, um pré-modernista, por exemplo, foi um dos oradores. Não sendo dominante desde o início, o modernismo, com o tempo, suplantou os anteriores. Foi marcado pela liberdade de estilo e aproximação com a linguagem falada, sendo os da primeira fase mais radicais em relação a esse marco.


Didaticamente, divide-se o Modernismo em três fases: a primeira fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo; uma segunda mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada Pós-Modernismo por vários autores, que se opunha de certo modo a primeira e era por isso ridicularizada com o apelido de Parnasianismo.




O modernismo é retomado nos anos 60 com a montagem da peça “O Rei da Vela”, pelo Teatro Oficina, e o “Movimento Tropicalista” de (1967-1968).

Poemas e Fragmentos de Oswald

Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da nação brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

O Capoeira

- Qué apanhá sordado?
- O quê?
- Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada

Relicário 

No baile da Corte 
Foi o Conde d'Eu quem disse 
Pra Dona Benvinda 
Que farinha de Suruí 
Pinga de Parati 
Fumo de Baependi 

É comê bebê pitá e caí 

Poemas Modernistas de nossa autoria

Falar

Falo muito
Falo pouco
Falo do mendigo ao rei
Falo.

Fogos de artifício

fogos iluminam o céu
olhos atentos
explosão
trá
acabou

Pinturas modernistas relacionadas a seus poemas

Todas as pinturas abaixo pertencem à Tarsila do Amaral.

A descoberta

Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra


Santa Quitéria
Palmas imensas
Sobem dos caules ocultos
Cercas e cavalos
a raça que se apruma


Trecho do Manifesto Antropofágico
Só a antropofagia nos une.
Socialmente, Economicamente,
Filosoficamente.                                                                                      

Única lei do mundo. Expressão masc
arada
de todos os individualismos, de todos os
coletivismos. De todas as religiões. De
todos os tratados de paz.

Tupy, or not tupy that is the question.

Só me interessa o que não é meu.
Lei do homem. Lei do antropofago.

Foi porque nunca tivemos gramáticas, 
nem coleções de velhos vegetais. 
E nunca soubemos o que era urbano, 
suburbano, fronteiriço e continental. 
Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil. 

Queremos a Revolução Caraíba. 
Maior que a Revolução Francesa.                                    
A unificação de todas as revoltas eficazes                                    
na direção do homem. Sem nós a Europa 
não teria sequer a sua pobre declaração 
dos direitos do homem. 


Antes dos portugueses descobrirem o Brasil,
o Brasil tinha descoberto a felicidade.

A alegria é a prova dos nove.