Oswald de Andrade

Oswald de Andrade

sexta-feira, 28 de março de 2014

Anita, Tarsila, Mário e Manuel

Anita Malfatti

Anitta realizou sua primeira exposição individual, em 1914, aqui no Brasil. Em seguida, foi para os Estados Unidos onde estudou com Homer Boss, com a liberdade de pintar o que desejasse, livre de imposições.

Foi esse período que marcou a fase mais brilhante de sua criação. Anita produziu telas como O homem amarelo, Mulher de cabelos verdes, O Japonês, ainda hoje tidas entre suas melhores obras.

A maneira como ela percebia a arte veio “desarrumar” o que era aceito. Para ela, porém, não era somente o que era belo que existia. O feio fazia parte da realidade e era por ela retratado em sua arte. Era a expressão que se fazia presente porque era assim que Anita percebia a arte. Suas pinturas – modernas – tinham, portanto, motivos para causar desaprovação.

Em 1917, Anita fez outra exposição, muito importante porque foi considerada a semente do modernismo. "Foi ela, foram os seus quadros, que nos deram uma primeira consciência de revolta e de coletividade em luta pela modernização das artes brasileiras" disse o escritor Mário de Andrade, outro expoente do modernismo brasileiro.

No entanto, o editor e autor Monteiro Lobato, em artigo publicado no jornal "O Estado de S.Paulo", criticou a mostra, esperando atingir seu alvo principal, os modernistas, como Di Cavalcanti, companheiros da pintora. Ela recebeu mal a crítica. Entrou em depressão e parou de pintar. Um ano depois, decidida a ser mais convencional, foi tomar aulas de natureza-morta com Pedro Alexandrino Borges, e se tornou amiga da pintora Tarsila do Amaral.

Os trabalhos de Anita foram exibidos na Semana de Arte Moderna de 1922 e em outras exposições, onde foi premiada e consagrada. 

A pintora teve um amigo, confidente, sua paixão platônica de toda uma vida: Mario de Andrade. Ao que tudo indica, Mario sabia do amor de Anita, mas os dois nunca falaram sobre isso. Ele morreu, solteiro, em 1945. No décimo aniversário da morte do escritor, ela escreveu-lhe uma carta:

"Tenho medo de ter desapontado a você. Quando se espera tanto de um amigo, este fica assustado, pois sabe que nós mesmos, nada podemos fazer e ficamos querendo, querendo ser grandes artistas e tristes de ficarmos aquém da expectativa."

Principais obras de Anita Malfatti:

A boba, As margaridas de Mário, A Estudante Russa, O homem das sete cores, Nu Cubista, O homem amarelo, A Chinesa, Arvoredo, Interior de Mônaco...


A boba.

Tarsila do Amaral

Em 1922, formando o "Grupo dos Cinco", junto com Anita Malfatti, Mario de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia. Este grupo foi o mais importante da Semana de Arte Moderna de 1922.

Em 1923, retornou para a Europa e teve contatos com vários artistas e escritores ligados ao movimento modernista europeu. Entre as décadas de 1920 e 1930, pintou suas obras de maior importância e que fizeram grande sucesso no mundo das artes. Entre as obras desta fase, podemos citar as mais conhecidas: Abaporu e Operários.

No final da década de 1920, Tarsila criou os movimentos Pau-Brasil e Antropofágico. Entre as propostas desta fase, Tarsila defendia que os artistas brasileiros deveriam conhecer bem a arte europeia, porém deveriam criar uma estética brasileira, apenas inspirada nos movimentos europeus.


É característico de suas obras o uso de cores vivas, a influência do cubismo (uso de formas geométricas), a abordagem de temas sociais, cotidianos e paisagens do Brasil e a estética fora do padrão (influência do surrealismo na fase antropofágica).


O abaporu.
Operários.


Mário de Andrade

Um dos criadores do modernismo no Brasil. Junto com Oswald e outros intelectuais, Mário ajudou a preparar a Semana de Arte Moderna de 1922. No segundo dia de espetáculos, durante o intervalo, em pé na escadaria do Teatro Municipal, leu algumas páginas de seu livro de ensaios "A Escrava Que Não É Isaura". O público, despreparado para a ousadia, reagiu com vaias.


Em 1917 conhece Anita Malfatti e Oswald de Andrade, tornando-se amigos inseparáveis. Ainda nesse ano com o pseudônimo de Mário Sobral, publica seu primeiro livro "Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema", no qual critica a matança produzida na Primeira Guerra Mundial.

No Primeiro Tempo do Modernismo (1922-1930) a lei era se libertar do modismo europeu, procurar uma linguagem nacional e promover a integração entre o homem brasileiro e sua terra. 1922 foi um ano importantíssimo para Mário de Andrade. Além da Semana de Arte Moderna, foi nomeado professor catedrático do Conservatório de Música. Publicou "Pauliceia Desvairada", onde reuniu seus primeiros poemas modernistas. Integrou o grupo fundador da revista Klaxon, que servia de divulgação para o movimento modernista.

Mário de Andrade fez várias viagens pelo Brasil, com o objetivo de estudar a cultura de cada região. Visitou cidades históricas de Minas, passou pelo Norte e Nordeste, recolhendo informações como festas populares, lendas, ritmos, canções, modinhas, etc. Todas essas pesquisas lhe renderam obras como "Macunaíma", "Clã do Jabuti" e "Ensaio sobre a Música Brasileira".

Em "Clã do Jabuti", Mário mostra a importância que dá à pesquisa do folclore brasileiro, tendência que atingirá seu ponto alto no romance "Macunaíma", no qual recria mitos e lendas indígenas para traçar um painel do processo civilizatório brasileiro:

"No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma".

Na musicologia, seu "Ensaio Sobre a Música Brasileira" influenciou nossos maiores compositores contemporâneos, nomes como Heitor Villa-Lobos, Francisco Mignone, Lorenzo Fernández, Camargo Guarnieri.

O primeiro livro mostra a preocupação do autor em denunciar as desigualdades sociais. O segundo se constitui de textos esparsos (reunidos em publicação póstuma), mas traz os contos mais importantes, como "Peru de Natal" e "Frederico Paciência".


Sua obra poética foi reunida e publicada postumamente em "Poesias Completas".




Manuel Bandeira

Os temais mais comum na obra de Manuel Bandeira é marcada pela experiência da doença e do isolamento advindo dela, são, entre outros, a paixão pela vida, a morte, o amor e o erotismo, a solidão, a angústia existencial, o cotidiano e a infância.

Sua obra é um rico testemunho da poesia brasileira do século XX, pois engloba criações que vão de um pós- Parnasianismo e de um pós-Simbolismo. Poemas com influências pós-simbolistas: A cinza das horas e Carnaval. O ritmo dissoluto é uma obra de transição e Libertinagem é uma obra de plena maturidade modernista.

Entre as inúmeras contribuições deixadas pela poesia de Manuel, duas se destacam: o seu papel decisivo na solidificação da poesia de orientação modernista, com todas as suas implicações (verso livre, língua coloquial. irreverência, liberdade criadora...), e o alargamento da lírica nacional pela sua capacidade de extrair poesia das coisas aparentemente banais do cotidiano

Os sapos

Enfunando os papos, 
Saem da penumbra, 
Aos pulos, os sapos. 
A luz os deslumbra. 

Em ronco que aterra, 
Berra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi à guerra!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado. 

Vede como primo 
Em comer os hiatos! 
Que arte! E nunca rimo 
Os termos cognatos. 

O meu verso é bom 
Frumento sem joio. 
Faço rimas com 
Consoantes de apoio. 

Vai por cinquüenta anos 
Que lhes dei a norma: 
Reduzi sem danos 
A fôrmas a forma. 

Clame a saparia 
Em críticas céticas:
Não há mais poesia, 
Mas há artes poéticas..." 

Urra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

Brada em um assomo 
O sapo-tanoeiro: 
- A grande arte é como 
Lavor de joalheiro. 

Ou bem de estatuário. 
Tudo quanto é belo, 
Tudo quanto é vário, 
Canta no martelo". 

Outros, sapos-pipas 
(Um mal em si cabe), 
Falam pelas tripas, 
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". 

Longe dessa grita, 
Lá onde mais densa 
A noite infinita 
Veste a sombra imensa; 

Lá, fugido ao mundo, 
Sem glória, sem fé, 
No perau profundo 
E solitário, é 

Que soluças tu, 
Transido de frio, 
Sapo-cururu 
Da beira do rio...

"Pau-Brasil", "Manifesto Antropófago"

"Pau-Brasil"

Em 1924, Oswald de Andrade lançou o Manifesto da Poesia Pau-brasil, dando início ao movimento Pau-Brasil, que, inspirado em nosso primeiro produto de exportação, o pau-brasil, defendia a criação de uma poesia brasileiro de exportação. O movimento propunha uma poesia primitivista, construída com base na revisão crítica de nosso passado histórico e cultural e na aceitação e valorização dos contrastes da realidade e da cultura brasileiras.

Neste manifesto Oswald defende uma poesia que seja ingênua, mas ingênua no sentido de não contaminada por formas preestabelecidas de pensar e fazer arte. “Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.”



"Manifesto Antropófago"

Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Raul Bopp, em 1928, o mais radical de todos os movimentos do período: a Antropofagia. O movimento foi inspirado no quadro Abaporu. Os antropófagos propunham a devoração da cultura estrangeira.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Um pouco de Oswald - Curta Biografia

Podemos dizer que Oswald  foi o maior representante da estética modernista no que se refere às características estilísticas. Em suas obras destacam-se obras a  linguagem espontânea, livre de apegos no que diz respeito à sintaxe, predominância do coloquialismo e de uma crítica extremamente irreverente. Sem ser ingênuo e ufanista, ele defendia a valorização de nossas origens, do nosso passado histórico e cultural, mas de forma crítica, recuperando, parodiando, ironizando e atualizando nossa história de colonização.

Oswald de Sousa Andrade, filho único de José Oswald Nogueira de Andrade e Inês Henriqueta Inglês de Sousa Andrade, nasceu em 11 de janeiro de 1890 em São Paulo. Formou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco. Em suas várias viagens à Europa, tem contato com os movimentos de vanguarda e adota as ideias futuristas, tornando-se uma das principais personalidades do modernismo. Estudou jornalismo literário e, inicia sua vida literária no jornal humorístico "O Pirralho" fundado por ele mesmo.

Muito próximo, no princípio de sua carreira literária, da pessoa de Mário de Andrade, ambos os autores funcionaram como um dínamo na introdução e experimentação do movimento, unidos por uma profunda amizade que durou muito tempo.

Porém, possuindo profundas distinções estéticas em seu trabalho, Oswald de Andrade foi também mais provocador que o seu colega modernista, podendo hoje ser classificado como um polemista. 

Criador da obra "O Pau-Brasil" e "Antropofagia", Oswald de Andrade lança um dos mais importantes manifestos do modernismo "Manifesto Pau-Brasil", publicado no Correio da Manhã.

Em 1926 casa-se com a pintora Tarsila do Amaral. Dois anos depois, separa-se de Tarsila do Amaral e casa-se com a escritora e militante política Patrícia Galvão, a Pagu. Em 1944, mais um casamento, com Maria Antonieta D'Aikmin, com quem permanece casado até o fim de sua vida.


Oswald de Andrade morre em São Paulo, no dia 22 de outubro de 1954.

Suas principais obras são: o Manifesto Antropófago, os romances Serafim Ponte Grande e Memórias sentimentais de João Miramar, a peça teatral O rei da vela, O homem e o cavalo e A mortaos poemas Bucólica, cidade, pronominais, maturidade, a transação, 3 de maio, entre outras. 


Oswald e Anitta Malfatti.
Oswald, Patrícia Galvão e o filho do casal, Rudá.

Oswald ao lado de seu último amor, Maria Antonieta.

O modernismo

O modernismo brasileiro foi um amplo movimento cultural que repercutiu fortemente na primeira metade do século XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas. Características desse momento literário foram: a libertação estética, a experimentação constante e, principalmente, a independência cultural do país. A base deste movimento se encontra nas artes plásticas, com destaque para a pintura. O movimento no Brasil foi desencadeado a partir da assimilação de tendências culturais e artísticas lançadas pelas vanguardas europeias no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, como o Cubismo e o Futurismo. 

Considera-se a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, como ponto de partida do modernismo no Brasil. O modernismo já se mostrava presente muito antes do movimento de 1922, as primeiras mudanças na cultura brasileira que tenderam para o modernismo datam de 1913 com as obras do pintor Lasar Segall; e no ano de 1917, a pintora Anita Malfatti , recém-chegada da Europa, provoca uma renovação artística com a exposição de seus quadros. A este período chamamos de Pré-Modernismo (1902-1922), no qual se destacam literariamente, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos; nesse período ainda podemos notar certa influência de movimentos anteriores como realismo/naturalismo, parnasianismo e simbolismo. 

Porém, nem todos os participantes desse evento eram modernistas: Graça Aranha, um pré-modernista, por exemplo, foi um dos oradores. Não sendo dominante desde o início, o modernismo, com o tempo, suplantou os anteriores. Foi marcado pela liberdade de estilo e aproximação com a linguagem falada, sendo os da primeira fase mais radicais em relação a esse marco.


Didaticamente, divide-se o Modernismo em três fases: a primeira fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo; uma segunda mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada Pós-Modernismo por vários autores, que se opunha de certo modo a primeira e era por isso ridicularizada com o apelido de Parnasianismo.




O modernismo é retomado nos anos 60 com a montagem da peça “O Rei da Vela”, pelo Teatro Oficina, e o “Movimento Tropicalista” de (1967-1968).

Poemas e Fragmentos de Oswald

Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da nação brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

O Capoeira

- Qué apanhá sordado?
- O quê?
- Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada

Relicário 

No baile da Corte 
Foi o Conde d'Eu quem disse 
Pra Dona Benvinda 
Que farinha de Suruí 
Pinga de Parati 
Fumo de Baependi 

É comê bebê pitá e caí 

Poemas Modernistas de nossa autoria

Falar

Falo muito
Falo pouco
Falo do mendigo ao rei
Falo.

Fogos de artifício

fogos iluminam o céu
olhos atentos
explosão
trá
acabou

Pinturas modernistas relacionadas a seus poemas

Todas as pinturas abaixo pertencem à Tarsila do Amaral.

A descoberta

Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra


Santa Quitéria
Palmas imensas
Sobem dos caules ocultos
Cercas e cavalos
a raça que se apruma


Trecho do Manifesto Antropofágico
Só a antropofagia nos une.
Socialmente, Economicamente,
Filosoficamente.                                                                                      

Única lei do mundo. Expressão masc
arada
de todos os individualismos, de todos os
coletivismos. De todas as religiões. De
todos os tratados de paz.

Tupy, or not tupy that is the question.

Só me interessa o que não é meu.
Lei do homem. Lei do antropofago.

Foi porque nunca tivemos gramáticas, 
nem coleções de velhos vegetais. 
E nunca soubemos o que era urbano, 
suburbano, fronteiriço e continental. 
Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil. 

Queremos a Revolução Caraíba. 
Maior que a Revolução Francesa.                                    
A unificação de todas as revoltas eficazes                                    
na direção do homem. Sem nós a Europa 
não teria sequer a sua pobre declaração 
dos direitos do homem. 


Antes dos portugueses descobrirem o Brasil,
o Brasil tinha descoberto a felicidade.

A alegria é a prova dos nove.

Músicas relacionadas a Oswald de Andrade

Em se tratando das características de suas obras, torna-se relevante destacarmos aquelas que permearam toda a estética modernista. Entre elas destacam-se: Ruptura com “moldes” antes sacramentados por outras estéticas. O verso livre, a linguagem coloquial e irônica, o predomínio de um “português” genuinamente brasileiro e o nacionalismo tiveram seu momento subliminar.

Destacamos algumas músicas relacionadas às suas características:


Vaca Profana - Caetano Veloso


Respeito muito minhas lágrimas
Mas ainda mais minha risada
Inscrevo, assim, minhas palavras
Na voz de uma mulher sagrada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da manada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da man...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Dona das divinas tetas
Derrama o leite bom na minha cara
E o leite mau na cara dos caretas
Segue a "movida Madrileña"
Também te mata Barcelona
Napoli, Pino, Pi, Paus, Punks
Picassos movem-se por Londres
Bahia, onipresentemente
Rio e belíssimo horizonte
Bahia, onipresentemente
Rio e belíssimo horiz...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Vaca de divinas tetas
La leche buena toda en mi garganta
La mala leche para los "puretas"
Quero que pinte um amor Bethânia
Stevie Wonder, andaluz
Como o que tive em Tel Aviv
Perto do mar, longe da cruz
Mas em composição cubista
Meu mundo Thelonius Monk`s blues
Mas em composição cubista
Meu mundo Thelonius Monk`s...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Vaca das divinas tetas
Teu bom só para o oco, minha falta
E o resto inunde as almas dos caretas
Sou tímido e espalhafatoso
Torre traçada por Gaudi
São Paulo é como o mundo todo
No mundo, um grande amor perdi
Caretas de Paris e New York
Sem mágoas, estamos aí
Caretas de Paris e New York
Sem mágoas estamos a...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Dona das divinas tetas
Quero teu leite todo em minha alma
Nada de leite mau para os caretas
Mas eu também sei ser careta
De perto, ninguém é normal
Às vezes, segue em linha reta
A vida, que é "meu bem, meu mal"
No mais, as "ramblas" do planeta
"Orchta de chufa, si us plau"
No mais, as "ramblas" do planeta
"Orchta de chufa, si us...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Deusa de assombrosas tetas
Gotas de leite bom na minha cara
Chuva do mesmo bom sobre os caretas...


Podres Poderes - Caetano Veloso

Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
E perdem os verdes somos uns boçais

Queria querer gritar setecentas mil vezes
Como são lindos, como são lindos os burgueses
E os japoneses mas tudo é muito mais

Será que nunca faremos senão confirmar
A incompetência da américa católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos?
Será, será que será, que será, que será
Será que esta minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir por mais mil anos?

Enquanto os homens exercem seus podres poderes
índios e padres e bichas, negros e mulheres
E adolescentes fazem o carnaval

Queria querer cantar afinado com eles
Silenciar em respeito ao seu transe, num êxtase
Ser indecente mas tudo é muito mau

Ou então cada paisano e cada capataz
Com sua burrice fará jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades, caatingas e nos gerais
Será que apenas os hermetismos pascoais
Os toms, os miltons, seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais?

Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais

Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo
Daqueles que velam pela alegria do mundo
Indo mais fundo tins e bens e tais...


Balada do Esplanada - Cazuza

Ontem de noite eu procurei
Ver se aprendia como é que se fazia
Uma balada, antes de ir pro meu hotel

É que esse coração
Já se cansou de viver só
E quer então
Morar contigo no Esplanada
Contigo no Esplanada

Pra respirar
Abro a janela
Como um jornal
Eu vou fazer a balada
Fazer a balada
Do Esplanada e ficar sendo o menestrel
E ficar sendo
O menestrel do meu hotel
Do meu hotel

Mas não há poesia em um hotel
Nem mesmo sendo
O Esplanada, um grande hotel
Há poesia na dor, na flor, no beija-flor
Na dor, na flor, no beija-flor, no elevador
No elevador



Que país é esse? - Legião Urbana

Nas favelas, no senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação

Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?

No Amazonas, no Araguaia, na Baixada fluminense
No Mato grosso, Minas Gerais e no Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão

Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?

Terceiro Mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão.

Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?



Brasil - Cazuza

Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer

Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha

Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim

Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer

Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada pra só dizer "sim, sim"

Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim

Grande pátria desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
(Não vou te trair)



Minha alma (A paz que não quero) - Gabriel O pensador

A minha alma tá armada
E apontada para a cara
Do sossego
Pois paz sem voz 
Paz sem voz
Não é paz é medo

Às vezes eu falo com a vida
Às vezes é ela quem diz 
Qual a paz que eu não quero
Conservar
Para tentar ser feliz (x4)

As grades do condomínio
São para trazer proteção 
Mas também trazem a dúvida
Se é você que está nessa prisão 
Me abrace e me dê um beijo
Faça um filho comigo
Mas não me deixe sentar 
Na poltrona no dia de domingo, domingo
Procurando novas drogas

De aluguel nesse vídeo 
Coagido é pela paz
Que eu não quero 
Seguir admitindo 
É pela paz que eu não quero, seguir
É pela paz que eu não quero, seguir
É pela paz que eu não quero, seguir
Admitindo solo



A “Geleia Geral”, expressão do poeta Décio Pignatari que virou título da canção-manifesto de Torquato Neto e Gilberto Gil, apresentava-se na forma de um País cuja sociedade dividida e contraditória vivia no limiar da modernidade (formiplac, televisão, Jornal do Brasil), mas ainda presa à tradição (bumba-meu-boi, mangueira, céu de anil). O Cinema Novo, o teatro e suas companhias como Arena e Oficina, um intenso pensamento crítico nos jornais e revistas e uma série de trabalhos revolucionários nas artes plásticas criavam as condições de radicalidade estética do movimento. 

Geléia Geral - Gilberto Gil (Torquato Neto)

Um poeta desfolha a bandeira
E a manhã tropical se inicia
Resplendente, cadente, fagueira
Num calor girassol com alegria
Na geléia geral brasileira
Que o jornal do Brasil anuncia

Ê bumba iê iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba iê iê iê
É a mesma dança, meu boi

Ê bumba iê iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba iê iê iê
É a mesma dança, meu boi

"A alegria é a prova dos nove"
E a tristeza é teu Porto Seguro 
Minha terra é onde o Sol é mais limpo
Em Mangueira é onde o Samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem 
Pindorama, país do futuro

Ê bunba iê iê boi 
Ano que vem, mês que foi
Ê bunba iê iê iê
É a mesma dança, meu boi

É a mesma dança na sala
No Canecão, na TV
E quem não dança não fala
Assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala
As relíquias do Brasil
Doce mulata malvada
Um LP de Sinatra
Maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano
Super poder de paisano
Formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela
Carne seca na janela
Alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade
Hospitaleira amizade
Brutalidade, jardim

Ê bumba iê iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba iê iê iê
É a mesma dança, meu boi

Ê bumba iê iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba iê iê iê
É a mesma dança, meu boi

Plurialva, contente e brejeira
Miss linda Brasil diz: "Bom Dia" 
E outra moça também, Carolina
Da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos
E a saúde que o olhar irradia

Ê bumba iê iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba iê iê iê
É a mesma dança, meu boi

Um poeta desfolha a bandeira
E eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento
Com o roteiro do sexto sentido
Faz do morro, pilão de concreto
Tropicália, bananas ao vento

Ê bumba iê iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba iê iê iê
É a mesma dança, meu boi

Ê bumba iê iê boi
Ano que vem, mês que foi
Ê bumba iê iê iê
É a mesma dança, meu boi

É a mesma dança, meu boi
É a mesma dança, meu boi